Crónica de Alexandre Honrado
Festas Felizes (para mim)
Não é por tradição, talvez por nostalgia, dou comigo nesta quadra do ano a refletir. Normalmente fico a contemplar uma fita de luzes coloridas, dessas que fazem de uma árvore natural um encantamento humano. Até nisso há uma tremenda carga cultural, somos pródigos em esconder a natureza com a nossa ânsia de luz.
Fico a refletir, dizia, enredado em memórias, exorcizando erros e demónios, dialogando com os entes amados, sobretudo com os que partiram – procurando enfeites de esperança num caminho que já vai longo e nem sempre foi atapetado para caminhadas fáceis ou pelo menos cómodas.
Sinto que sou mais feliz agora do que já fui – e isso parece um certo paradoxo, já que os momentos da infância deviam ter sido os mais audazes e ingénuos, os mais desalinhados e alegres. Hoje, porém, as minhas gargalhadas ouvem-se à distância, acredito nalguns de nós, ligo-me às causas em que creio, não creio em ídolos nem em idólatras, a minha crença é um cesto cheio de flores nunca colhidas, as cores que mais me enredam são de espantosos matizes.
Se me perguntarem se sou realmente feliz, e a felicidade é sempre uma impossibilidade, digo a correr que sim. Ser feliz é usufruir das temperaturas certas, com as iguarias certas, dentro dos grupos certos, por mais pequeninos que eles sejam.
Disseram-me que tenho andado pessimista, deve ser do vírus, mas também asseguro que muito otimismo é vergonhoso. Não posso cair nos extremos, porque dos extremos, seja eles quais forem, nunca surgiu nada de bom. E enquanto reflito a olhar para as luzes coloridas, desejo-me intimamente, com um sorriso pródigo, festas felizes.
Alexandre Honrado
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